segunda-feira, fevereiro 26, 2007

por uma vida menos ordinária

O som de ir embora. Outra vez. Passagem de ida nas mãos. As malas quase prontas, um esforço gigantesco para levar, por ora, o necessário. Ainda é tanto. E uma bagagem imaterial maior e mais importante. Os que vão sempre comigo. Mais amigos ocupando o espaço invisível do meu afeto. Mãe, irmãs, essa coisa complicada que é família, fúria e doçura.
Querer ficar tão perto, senti-los em mim, um estoque da presença para quando a saudade chegar. Mas não me levem a mal. Não quero parecer melancólica. Essas agruras também compõem o processo.
E para dizer a verdade, fora essa parte que sim, dói um pouco, tudo corre leve. Não me vejo aflita, nem assustada, nem nada assim. Claro, há um grau de indeterminação aí, uma chance de as coisas não saírem como planejadas. Mas viver nunca é algo muito exato, n'est pas? A gente escolhe e torce para dar certo. E é tão bom acreditar nessa possibilidade.
Acho que é por isso que estou tranquila, tudo me soa tão simples. E ao mesmo tempo é tão grande. É como ensina o tio Cortázar, o fantástico irrompe no cotidiano. E na maior parte do tempo não é anunciado em neon, não vem com fogos de artifício ou matéria no jornal. Está por aí, mostrando que viver é pra se encantar. A vida é cheia de tesouros escondidos, de mapas para as Índias, de visões de paraísos. Eu vou lá procurar o meu.

sábado, fevereiro 17, 2007

vai passar II

Pensamento do dia: não fale mal do carnaval que deus castiga. Ou o coisa ruim, já que carnaval é festa pagã.
Estou com uma gripe horrorosa. A cabeça dói, tudo trancado, meu nariz está igual ao do bozo e não consigo comer nada. Bom, pelo menos isso é legal, por dois motivos: quem não come emagrece ( eu contra todas as regras nutricionais para atingir o peso ideal ) e não preciso cozinhar, o que evita a sequência funesta de frustração porque a comida ficou uma droga, bagunça na cozinha, louça para lavar e mau humor resmunguento não- foi-pra-isso-que-as-feministas-queimaram-sutiãs ( eu e meu entendimento torto do movimento feminista).
E hoje tenho festa para ir e estou com uma cara péssima, mas vou mesmo assim porque quero usar meu vestido lindo e novo. Eu sei, estou num momento de contenção de despesas, e não vou comprar mais nada. Mas palavras como "promoção", "sale", "50% off", têm sobre mim o mesmo efeito hipnótico de "madagascar", no Escorpião de Jade ( a fatura do cartão de crédito faz as vezes de "constantinopla").
E de qualquer maneira, meu vestido, além de lindo e barato, é totalmente versátil: com algumas adequações se adapta a várias situações, e vou poder usá-lo inclusive no inverno. Ou seja, comprá-lo foi praticamente uma medida de economia (sim, estou descaradamente tentando expurgar meu sentimento de culpa).
Dura, gripada, sozinha, com casa para arrumar ( mas estou doente e não posso fazer esforço). Eis como eu pulo o segundo dia de folia.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

vai passar

Mas então.O que eu estava contando no post que o vento levou é que eu vejo duas coisas positivas no carnaval: as músicas do Chico sobre o tema e não precisar trabalhar. Essa última, no meu caso, é providencial, porque acho que não há nada mais desanimador do que ter que cumprir obrigações em um lugar quando já se está com a cabeça em outro.
E devido à minha curtíssima lista de coisas-legais-sobre-o-carnaval, estava imaginando uma programação alternativa para os dias de folia.
Pensei em dividi-los em unidades de tempo, como o Will, de Um grande garoto. Muitas serão consumidas em filmes e seriados ( e a tv a cabo vale cada centavo investido, agora mais do que nunca).
Arrumar as roupas no armário por ordem de cor e de frequência de uso - tarefa inédita e totalmente inútil, daqui a pouco elas vão mudar de estado. Mas de qualquer forma, são várias unidades de tempo.
Separar os livros por assunto e organizá-los em ordem alfabética. Outras tantas unidades.
Hidratar o cabelo, fazer as unhas, limpeza de pele, boteco com os amigos igualmente não-carnavalescos, baixar músicas da internet para o meu tocador, umas coisas para ler e voilá: dias simplesmente lotados.
É assim que eu vou pular o carnaval.
(E se essa bagaça sumir de novo, só falo sobre isso em fevereiro de 2008).

ué?

cadê meu post de carnaval?
sumiu?
pfff.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

smallville

Viver no interior pode ser tão cansativo. A minha mudança.
Os amigos, a quem eu queria contar e de quem queria o parecer, estão informados há tempos.
Então pronto? Não mesmo.
Todo santo dia isso é assunto. O amigo do amigo, o amigo do amigo do amigo, o amigo da mãe, o desavisado que me viu umas duas vezes na vida, as pessoas do trabalho, as mulheres que frequentam o salão de beleza, os alunos, os ex-alunos. E lá vou eu pela milésima vez contar tudo. Mais olhos arregalados. Mais adeptos à lista dos contra ou a favor. No começo foi até divertido, mas agora estou enjoada.
Me sinto um pouco como o Julian Po, do filme de mesmo nome. Ele chega numa cidadezinha e declara que vai se matar. Crônica de uma morte anunciada. Aquilo vira o acontecimento, e a cidade inteira o segue para ver se ele vai mesmo.
Obviamente, não virei o acontecimento da cidade, e não vou ter platéia na rodoviária para conferir se eu vou mesmo.Mas de todo modo, isso cansou.
Então, um pedido: torçam para que algo de surpreendente aconteça por aqui. Tipo encontrarem um fóssil no quintal de alguém.
Algo que renda conversa pelo menos até eu ir embora.
Porque eu não falo mais.
Fim de papo.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

só de olhar para ela

Almodóvar, em De salto alto, conta pra gente como é difícil viver à sombra dos pais. O jogo duplo entre a admiração profunda e o temor de não conseguir corresponder às expectativas que - supõe-se - pairam vigilantes sobre o filho de uma lenda.
E se fosse o filho do Gabriel García Márquez? Rodrigo García é, e parece que não se intimidou. Hoje vi Coisas que você pode dizer só de olhar para ela, que ele dirigiu.
Que já valeria algo só por esse título, lindo. Mas é mais que isso. Cinco mulheres e suas histórias entrelaçadas. Eu sei, nos dias que correm, quase torcemos o nariz para mais-um-filme-de-narrativas-fragmentadas-que-se-cruzam-em-algum-ponto, de tão recorrente que se tornou esse recurso. (Ah, eu ainda não assisti Babel, mas acredito que o Iñarritú tem algo mais pra dizer além dessa construção que é sua marca característica. A ver.)
Mas a beleza de Coisas... está em cada trajetória, e principalmente na maneira como é contada. Uma delicadeza. A médica que cuida da mãe doente quase de vidro, e atende ao telefone ansiosa e nunca é quem ela espera. O perfume no elevador que diz para a moça cega que ela foi ignorada. A dor de uma relação que, se sabe, em breve será interrompida, porque uma delas tem aids.
Histórias que terminam para começar em outro lugar.
Porque, como diz um dos personagens, todo mundo procura alguém. Que nos faça sentir vontade de falar coisas só de olhar. E que nos faça dizer outras sem precisar de palavras.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

mas é só isso?

Meu amigo Cláudio colocou o link desse blog no dele, e deu a descrição mais legal do mundo: "blog da jana 100% menina". Eu amei!
E aproveitando o ensejo, tomei vergonha na cara e fui descobrir como faz para editar os links. Que ridículo eu não saber. Tão simples, e eu com preguiça de ler a ajuda. Dã.
Mas finalmente aprendi. E agora o Cláudio está aqui. E o Odyr. E a Jackie. E minha cara no flickr.
E amigos desblogados: façam um blog que eu coloco o link aqui também!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

quinta-feira, 20h

No filme A vida em preto e branco, o personagem principal é assíduo espectador de um seriado dos anos 50 que é a perfeita tradução do american way of life. E por uma operação mágica do seu controle remoto, ele e a irmã são transportados para dentro da tv, e passam a fazer parte daqueles episódios que antes só viviam na fantasia. E a transformá-los. Lindo, lindo.
Se eu tivesse um controle remoto desse, escolheria passar um tempo em Stars Hollow, a cidade das garotas Gilmore. Que é o lugar dos sonhos. Cheio de personagens deliciosos e situações idem. Como uma maratona de dança (quando Dean, o primeiro e perfeito namorado da Rory, termina com ela por causa do Jess, o desajustado lindo e lido), ou a maratona de tricô (episódio de hoje).
Sei que Lost é que está na moda, ainda mais agora com o Santoro e tudo, e eu me curvo à voz da razão espectadora.
Só que não adianta. Lorelai e Rory estão no topo da minha lista com quilômetros de vantagem de qualquer outra série, com ou sem ilha. Sei de cor todas as temporadas, não atendo telefone e imponho o toque de silêncio na sala quando estou assistindo.
Mas também, pudera. Tudo o que elas são e vivem é absolutamente fabuloso. Lindas e totalmente bem vestidas. Rory é incrivelmente inteligente e incrivelmente doce. Lorelai tem um senso de humor inacreditável. Elas compram cereal matinal colorido, só comem porcaria e não engordam, assistem a filmes clássicos ( e que coisa mais querida o episódio em que o Christopher levou a Lorelai para ver Cinderela em Paris), têm bom gosto musical e os diálogos mais ágeis de todo Connecticut.
E são sensíveis mas são fortes, e sempre estão às voltas com problemas amorosos, e são mãe e filha e melhores amigas.
E sim, eu queria ser a Rita Hayworth. Mas não acharia ruim se pudesse ser uma garota Gilmore.