segunda-feira, junho 11, 2007

a classe operária vai ao paraíso

Mãos ao alto, teje preso, temos provas. Ok, eu me rendo. Eu fui à praia. Sim, sim. Tudo como manda o protocolo: dia de folga no Rio, praia, elementar-meu-caro-Watson. E fui com o Odyr, tão pouco habituado às lides praianas quanto eu.
Sabe quando a gente vê aqueles filmes de época onde as mulheres vão à praia de vestido, salto e sombrinha e acha que nada pode ser menos apropriado? Minha existência na areia de Copacabana, mesmo com trajes apropriados (leia-se biquíni que nunca tinha saído da gaveta)me pareceu tão alienígena quanto.
E é tão impressionante, você olha pra frente e vê o mar, vira o rosto e vê a rua com engarrafamento, isso que é tão comum aqui no Rio, a natureza e a civilização andam sempre misturadas, quando você pensa que nada pode ser mais urbano o ônibus passa por um túnel no meio da montanha. E é por isso que eu gosto do Rio.
Mas eu fui, vi e venci. Passada uma meia hora eu já estava quase confortável. Depois de uns 45 minutos eu entrei na água e molhei até o joelho. Na próxima eu entro de verdade. E mais umas vinte vezes eu troco o fator 30 pelo 8.
Vou ser praticamente uma carioca.

quinta-feira, junho 07, 2007

lost in translation

Então eu li Budapeste.Eu nunca tinha lido nada do Chico. Sim, é estranho, já que eu faço parte do clube menos exclusivo da face da terra, das mulheres que idolatram o Chico Buarque. Mas eu pensava:não, não é possível, ele não pode ser bom escritor também.
Aí eu me decepcionaria e teria que ser racional em algum momento da discussão de boteco por-que-todas-querem-dar-pra-ele. E também tinha o receio que a associação imediata entre o chico-chico e o chico-autor turvasse minha leitura.
No entanto, minhas preocupações (muuuuuuuuito pertinentes, diga-se de passagem) não me impediram de dar esse pequeno, mas corajoso passo, então eu fui lá e li.
Em primeiro lugar, não, você não fica pensando: hmmm, estou lendo o que O Chico, aquele, escreveu.Pelo menos no meu caso, essa informação prévia foi rapidamente ofuscada pelas desventuras do José Costa, um ghost writer tão cioso do seu anonimato quanto orgulhoso do reconhecimento dos seus escritos, a glória na sombra.
E é a relação do protagonista com a língua que evidencia sua relação consigo, com sua existência. Ele escreve em português vidas que não são a dele, mas a sua vida está ali também. Da mesma forma, a descoberta de um outro idioma é uma descoberta de si, de uma outra forma de estar no mundo.
Aquela coisa dos linguistas, a palavra traduz o mundo, ou melhor, palavras traduzem mundos, os significantes e os significados de Saussure.
Ah, e nada surpreendente, o livro é muito bem escrito.
Aqui o José escreve a autobiografia de um alemão no Rio de Janeiro:

"A escrita me saía espontânea, num ritmo que não era o meu, e foi na batata da perna de Teresa que escrevi as primeiras palavras na língua nativa. No princípio ela até gostou,ficou lisonjeada quando eu lhe disse que estava escrevendo um livro nela. Depois deu para ter ciúme, para recusar seu corpo, disse que eu só a procurava a fim de escrever nela, e o livro já ia pelo sétimo capítulo quando ela me abandonou. Sem ela, perdi o fio do novelo, voltei ao prefácio, meu conhecimento da língua regrediu, pensei até em largar tudo e ir embora para Hamburgo.Passava os dias catatônico diante de uma folha de papel em branco, eu tinha me viciado em Teresa."

Sorry, boys. Ele é bom escritor também.