quarta-feira, maio 16, 2007

coisas para fazer quando não há nada para fazer

A livraria está em obras e minha função hoje é supervisionar. Olhar, com zero de interesse, homens quebrando paredes. Vão instalar um ar-condicionado bem em cima da minha cabeça e vai ser sempre inverno na dona laura. O que me deixa bem feliz porque roupas de inverno são muito mais bonitas mesmo, e eu enlouqueci folheando a editoria de moda da tpm com os casaquetos (nome besta, peças incríveis, como eles mesmo dizem) e vontade de comprar vários agora que o trabalho vai possibilitar usar casacos quentinhos e descolados. Isso foi o que eu fiz hoje. Li toda a TPM. Li a matéria sobre a Andrea que aos 42 anos é uma superpoderosa produtora da O2 e tive tempo de ter uma crise instantânea porque eu já tenho quase 30 e já fui pesquisadora, revisora de jornal, estagiária de um dia numa agência publicitária, professora e agora balconista e não tenho muito claro o que eu quero ser nos próximos 30 anos.
Li também sobre os filhos da puta - literalmente - as pessoas cujas mães fazem programa. E claro, eles têm relações de mãe-e-filho como qualquer um, elas se preocupam com os horários, eles não admitem que as ofendam, e enfim, as regularidades no irregular. E um texto lindo da Milly Lacombe que sempre escreve textos lindos.
Eu li o jornal também e fiquei sabendo que o Paulo Coelho apareceu na novela das seis. O mago tá com tudo: perfil de muitas páginas na New Yorker, artigo celebrado na Folha de São Paulo, e agora global. Pra ele, pelo menos, a máxima "quando você quer alguma coisa o universo todo conspira pra que se realize", funciona. A propósito, abro aqui uma brecha para um momento deslumbre caipira na capitar: o Isaac Bardavid, o Zequinha da novela, vai todo dia me falar oi na livraria - tem uma peça dele em cartaz na casa. Eu ainda vou pra Globo.
Já fiz um monte de palavras cruzadas também. O Millôr disse que jogar xadrez é muito útil pra aumentar a capacidade de jogar xadrez ( ou alguma coisa assim). Fazer palavras cruzadas é muito útil pra aumentar a capacidade de fazer palavras cruzadas.
Já vasculhei o orkut de um monte de gente, já vi meu email, já fui no boteco, já escrevi essas bobagens e ainda tem um monte de tempo até a hora de ir pra casa.
Lá, lá, lá. Já se foram mais dez segundos.
Tchu-ru-ru. Mais dez.
Quais, quais, quais, quais, quais, quais,quais (é assim que escreve, aquele som que eles repetem indefinidamente em "Trem das Onze"? - Há, há! acabei de achar uma versão:Faz, faz, faz faz faz faz, faz carinho dumdum,
Faz carinho dumdum, faz carim dumdum. Não posso ficar...).
Ok, isso me custou uns trinta segundos.
Não está funcionando.
Vou ter que achar outra coisa.

mi casa, su casa

Adiós, Santa Teresa.
Não mais o charme dos casarões, das ladeiras impossíveis, do bonde-de-são-januário-leva-mais-um-operário-sou-eu-que-vou-trabalhar. Au revoir, cidade do interior a quinze minutos do centro. Igreja com pracinha e boteco onde te conhecem.Hasta la vista, hippies (well, essa parte é boa).
Trocar o bairro decadente (e elegante) dos primeiros arrivistas pela sedução fácil da praia, o mundo das pessoas de sunga que frequentam a areia e a padaria com a mesma naturalidade.
É isso. Está feito e acabou chorare. Sai Santa Teresa, entra Copacabana. A praticidade venceu a poesia. Quinze minutos (a pé) do meu trabalho. Uhhh. Perto do trabalho do Odyr, também.
E justiça seja feita, não é de todo mal estar a uma quadra da praia. Meus olhos de revistas de magreza enxergam caminhadas matutinas e quilos a menos e pele mais bonita e mais disposição e água-de-coco que é bom e não engorda.
A dona de casa que eu não sou se alegra com o supermercado na esquina e a farmácia e todas essas coisas que é bom de ter por perto, ainda mais nos dias de hoje em que o tempo é tão curto e tantas coisas pra fazer e todas essas baboseiras do discurso da vida moderna.
Say goodbye, say hello. Hora de encaixotar as coisas, dizer tchau pra Santa, oi pra Copacabana. Mas a gente volta um dia.