quarta-feira, janeiro 31, 2007

mundo de ponta-cabeça

Dizem que a desgraça nunca vem desacompanhada. Sempre vem junto duas ou três ou quatro mais.
Acho que com as mudanças passa a mesma coisa. Nunca é uma só. Não entendo nada de astrologia e não sei em que era estamos, não sei qual é o significado de 2007 (2+0+0+7) na numerologia, nem se está escrito em alguma estrela, nos búzios ou no tarô que esse é o ano da grande transformação. Mas no meu universo pretensamente cético elas estão vindo como uma avalanche.
Tudo muda por aqui.
Por uma linda história, vou mudar de emprego, de cidade, vou mudar basicamente tudo o que ando acostumada a chamar de minha vida. E estou tão, tão feliz.
Minhas irmãs também experimentam vida nova. Amanhã vai a Isa. Mais uns dias e vai a Bê. E minha mãe não quer ficar vazia numa casa tão grande e está em busca de outro teto.
Agora há pouco minha relação com meu pai mudou, ainda que momentaneamente. Morreu seu melhor amigo, e eu o vi chorando. E tive vontade de abraçá-lo. E pela primeira vez em muito tempo não foi o abraço diplomático de aniversário ou das festas de final de ano. Tão surpreendente, para mim, senti-lo humano, senti-lo vulnerável, e querer fazer algo para que ele ficasse melhor.
Claro que nossa relação, que nunca foi grande coisa, não vai ter uma reviravolta sentimental dessas dos filmes depois disso. E tudo bem, nos habituamos a conviver com nosso estranhamento. Mas de qualquer forma, é curioso perceber que algumas circunstâncias despertam sentimentos amarelados, que quase esquecemos que existem.
Sim, o grande deus Mu dança. Não acredito muito que isso tenha a ver com os astros ou com Plutão que não é mais planeta, mas mesmo assim vou lá fora dar uma olhada nas estrelas.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

rayuela

Mas o amor, essa palavra...

segunda-feira, janeiro 22, 2007

jana in Ri-o-o!

Uma semana de Rio de Janeiro. Não fui à praia, nem ao Corcovado, nem ao Pão de Açúcar. Acenei pra Copacana duas vezes. Pra minha alegria e infelicidade de todos os outros turistas, não faz sol, é agradável andar pelas ruas. Vou ao cinema, ao boteco, à videolocadora, leio.
Sim, eu sei. Sou a turista mais fajuta do mundo de todos os tempos. Praticamente não saio de Santa Teresa.
Mas quer saber?
No momento, pra mim esse é o melhor lugar no mundo.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

flying down to Rio

Foi o que fizeram Fred Astaire e Ginger Rogers em 1933. A primeira vez que a dupla apareceu dançando na tela, e o primeiro filme importante dele. Aquela coisa, mostrar o Brasil para os gringos.
Mais tarde, à época da Segunda Guerra, essa aproximação se estreitou, graças ao esforço (político e cultural) norte-americano de unir as Américas contra o inimigo bélico, as terríveis forças do Eixo. Quando Walt Disney criou o Zé Carioca, e fez aqueles filmes Alô amigos, e Você já foi à Bahia?
O começo desse último parece uma aula sobre a fauna e a flora brasileiras. Meio chato. Ainda assim eu gosto. Até pensei em passar para os alunos para explicar a política da boa vizinhança, mas suspeito que seria linchada (ah, juventude!). Então me contentei em fazer uma breve imitação da Carmem Miranda. A melhor idéia, já que fui ovacionada por uma platéia entusiasmadíssima.
Mas enfim. O Pato Donald também foi ao Rio.
Orson Welles voou para o Rio ( e para o Ceará) em 1942, para fazer o documentário É tudo verdade. Que acabou sendo abandonado, para ser remontado postumamente, em 1993.
Até a Rita voou para o Rio. Tempos atrás vi uma foto dela no carnaval carioca.
Eu já comprei minha camisa florida e meu chapéu cata-ovo e vou também. Pena que não sou moviestar, então vou de ônibus mesmo.
Na volta eu conto.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

bebadosamba

Tarde chuvosa em casa, revirando cds, acabei por encontrar o Bebadosamba do Paulinho da Viola. E sei que Mara e Cláudio vão me xingar de fake porque me apresentaram ao melhor do rock'n'roll e eu fico falando de samba.
Mas não tenho culpa. O Paulinho da Viola é finíssimo. Letras e músicas lindas. E ele canta lindamente.
Memórias Conjugais é um maxixe bem-humorado, e é uma graça. Aí há também uma explicação acadêmico-afetiva, eu diria. Maxixe me lembra os primeiros anos do século XX, uma das épocas que mais gosto. A belle époque tropical, como o livro do Jeffrey Needell.
Nossa elite afrancesada. Os intelectuais discutindo nos cafés as novíssimas idéias sobre política, sociedade, cultura, progresso, todas vindas da Europa. Reformas urbanas para acompanhar as mudanças, principalmente na capital. Sim, o Rio civiliza-se!
Não é à toa que gosto tanto da praça Marechal Floriano, no Rio. Lá estão a Biblioteca Nacional (um dos meus lugares preferidos no mundo), O Museu Nacional de Belas Artes, o Theatro Municipal. Todos prédios daquele tempo, ladeando a Avenida Central (hoje avenida Rio Branco), o boulevard tupiniquim.
Mais pra lá fica a Colombo. As vezes que fui me fizeram pensar que tinha voltado ao começo do século passado. Quando os letrados tomavam café e falavam coisas importantes. E os ricos escolhiam seus pratos nos menus em francês.
Mas enquanto o topo da sociedade carioca cultivava o desejo de ser estrangeiro, as festas populares eram animadas por um novo tipo de dança, uma mistura de vários ritmos. Segundo o Mário de Andrade, a primeira dança genuinamente brasileira. Era o maxixe. Que foi apresentado na Europa e mais tarde conquistou os nacionais que antes torciam o nariz.
Maxixe, então.

Memórias conjugais - Paulinho da Viola
Lapidar
Foi a sua frase
Proferida de um jeito natural
Registrei esta preciosidade
Sem alarde
No meu livro de memórias conjugais
-“Tenho asas, meu amor, preciso abri-las
Ao seu lado não sou muito criativa”
Depois dessa
Fui em busca do meu antidepressivo
E afundei
No sofá com meus jornais
Minha cara no espelho já diz tudo
Desconfio de um carma secular
Pelo jeito, eu também sou um embrulho
Mas eu juro, deste muro
Amanhã vou me jogar
Resolvi
Vou tomar um providência
Pra começar, lá no bar do seu José
Para ver
Se exorcizo este domingo – céu nublado
E esta mala
Que não larga do meu pé

segunda-feira, janeiro 08, 2007

time is money

Ou dinheiro é tempo. Muito tempo. Uma tarde inteira. Ontem foi o dia de resolver pendengas financeiras. Filas, esperas.
Coisas para se fazer nas férias.
Primeiro, bom humor, afinal de contas tinha o dia livre, dentro do banco tem ar condicionado e estava com meu tocador de música a tiracolo. Tudo bem, a gente espera. Uma, duas, três, quatro, cinco músicas. Lá,lá,lá.
Uma gerente bonita e sorridente. Por isso as pessoas devem ficar tanto tempo na mesa dela. Ok, nada de se irritar.
Mais músicas. Enjoei. Ah, exposição de fotos. Vi todas. Duas palavras com um ex-aluno. Conversa com uma amiga. Mais alunos. Aceno ao meu vizinho que usa Grecin 2000 e óculos ambervision na testa. Mais duas palavras com um colega.
E fim do bom humor. Palavrões mentais. A gerente não era mais bonita e sorridente. Era devagar. Muito devagar.
E ainda tive que ir pra fila. Ui, como demora. Por que só três caixas? Por que todo mundo resolveu vir justo hoje? Por que se enrolam tanto pra tirar a carteira do bolso? Por que aquela mulher está conversando com o caixa? Por que aquela maldita bobina sempre acaba justo na minha vez? Por que eu não nasci herdeira?
Um dia inteiro de ócio irremediavelmente perdido.
Suspiro.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

elementar, meu caro

Não sou grande leitora de romances policiais. Tampouco sei se é a categoria exata para enquadrar esses livros que vez por outra me caem nas mãos.
Oh, definições.
Uma vez um contista (agora não me lembro quem, mas deve ser um desses bem óbvios), a despeito das teorizações acadêmicas sobre essa forma literária - narrativa, em prosa, menor extensão, etc, etc, etc. -, disse que um conto é aquilo que o autor quer que seja. Eu diria que o que entendo por literatura policial é aquilo que a prateleira da livraria quer que seja.
Crimes. Suspeitos. Pistas. Detetives. Tive uma fase totalmente Sherlock Holmes. Também acompanhei as investigações do comissário Maigret, do Simenon. E para não deixar de lado a prata da casa, me diverti um bocado com o Ed Mort, que divide o escritório (escri, na verdade) com baratas e um rato.
No livro Cuca fundida, de Woody Allen, um detetive é contratado para encontrar Deus. Muito bom.
Por esses dias, ando às voltas com "Tiros na noite", do Dashiell Hammett. Que eu conhecia por nome, já que criou Samuel Spade, que é o Humphrey Bogart, que encontrou o falcão maltês.
E é uma delícia. Não traz a atmosfera elegante que emoldura os crimes europeus investigados por Holmes e Maigret, mas cidades norte-americanas plenas de violência, cinismo, corrupção. Os Estados Unidos noir. Cenário que me fascina há tempos no cinema, e agora me encanta na literatura.
Sim, Hammett está sendo boa companhia. Ele e seu Spade, que aparece em três contos. Tão distinto, fisicamente, do Spade de Hollywood.
A propósito, adoro a frase de Bogart-Spade no fim de Relíquia Macabra (como foi traduzido o título do filme para o Brasil). Perguntam-lhe por que o falcão maltês é tão valioso, ao que ele responde, shakespeareanamente: esta é a matéria da qual os sonhos são feitos.
Que é a mesma matéria que faz a literatura. O cinema. E me faz a vida real mais leve sobre os ombros.

terça-feira, janeiro 02, 2007

então que venha

Pronto, passou. O massacre das festas em família. As trinta mil vezes que tive que desejar feliz natal e ano novo, já que não sou anti-social e não quero azedar a vida de ninguém.
Não comi 12 uvas (acho que essa é a quantia), não comi lentilhas, não pulei ondas, não beijei na boca. Mas tudo correu muy bien. E 2007 começou com chuva, eu que gosto tanto.
E começa bem em muitos aspectos.
Então que venha.
Estou aqui.