quarta-feira, janeiro 10, 2007

bebadosamba

Tarde chuvosa em casa, revirando cds, acabei por encontrar o Bebadosamba do Paulinho da Viola. E sei que Mara e Cláudio vão me xingar de fake porque me apresentaram ao melhor do rock'n'roll e eu fico falando de samba.
Mas não tenho culpa. O Paulinho da Viola é finíssimo. Letras e músicas lindas. E ele canta lindamente.
Memórias Conjugais é um maxixe bem-humorado, e é uma graça. Aí há também uma explicação acadêmico-afetiva, eu diria. Maxixe me lembra os primeiros anos do século XX, uma das épocas que mais gosto. A belle époque tropical, como o livro do Jeffrey Needell.
Nossa elite afrancesada. Os intelectuais discutindo nos cafés as novíssimas idéias sobre política, sociedade, cultura, progresso, todas vindas da Europa. Reformas urbanas para acompanhar as mudanças, principalmente na capital. Sim, o Rio civiliza-se!
Não é à toa que gosto tanto da praça Marechal Floriano, no Rio. Lá estão a Biblioteca Nacional (um dos meus lugares preferidos no mundo), O Museu Nacional de Belas Artes, o Theatro Municipal. Todos prédios daquele tempo, ladeando a Avenida Central (hoje avenida Rio Branco), o boulevard tupiniquim.
Mais pra lá fica a Colombo. As vezes que fui me fizeram pensar que tinha voltado ao começo do século passado. Quando os letrados tomavam café e falavam coisas importantes. E os ricos escolhiam seus pratos nos menus em francês.
Mas enquanto o topo da sociedade carioca cultivava o desejo de ser estrangeiro, as festas populares eram animadas por um novo tipo de dança, uma mistura de vários ritmos. Segundo o Mário de Andrade, a primeira dança genuinamente brasileira. Era o maxixe. Que foi apresentado na Europa e mais tarde conquistou os nacionais que antes torciam o nariz.
Maxixe, então.

Memórias conjugais - Paulinho da Viola
Lapidar
Foi a sua frase
Proferida de um jeito natural
Registrei esta preciosidade
Sem alarde
No meu livro de memórias conjugais
-“Tenho asas, meu amor, preciso abri-las
Ao seu lado não sou muito criativa”
Depois dessa
Fui em busca do meu antidepressivo
E afundei
No sofá com meus jornais
Minha cara no espelho já diz tudo
Desconfio de um carma secular
Pelo jeito, eu também sou um embrulho
Mas eu juro, deste muro
Amanhã vou me jogar
Resolvi
Vou tomar um providência
Pra começar, lá no bar do seu José
Para ver
Se exorcizo este domingo – céu nublado
E esta mala
Que não larga do meu pé

2 comentários:

Anônimo disse...

"nao sou eu quem me navega, quem me navega e o mar.."
Pode nao ser rock'n roll,
But it's rocks baby!!!
saudades...

janaína disse...

é ele quem me carrega como nem fosse levar!