Não se fala mal da rotina, já dizia o Chico.
Oh, mas se fala. E para mim. Ou na minha frente. E sem querer, ou sem perceber, lá estou eu sabendo de problemas sentimentais que não me dizem respeito.
É quando faço as vezes de versão feminina do garçom. Dia desses um coração partido veio chorar as pitangas para o meu lado. Em aproximadamente uma hora ( ah, a capacidade que alguns têm de falar por horas a fio sem se importar que todas as respostas do interlocutor sejam um balanço de cabeça, ou o variante hum-hum) me contou a história mais velha do mundo, a traição, a desconfiança, a confirmação, o fim.
E como não poderia deixar de ser, desfiou o rosário interminável das suas qualidades, o misto de autoafirmação e autopiedade típico de quem perdeu o chão e custa a entender por quê. E não se iludam, nenhuma semelhança com o rejeitado adorável dos filmes de amor (aquele que a gente não entende como foi descartado - ou entende, a mulher era uma vaca). Não pensem no Luke Wilson ou no John Cusack. Melhor, não pensem mais no assunto, o cara era um saco.
Hoje um casal, que a gente olha e imagina a certidão de casamento amarelando no fundo de uma gaveta. A mulher pára na minha frente atraída por uma dessas coisas que eu nunca sei direito como vêm parar aqui, uma Carteira de Namoro. Como uma adolescente que cola no diário o papel da bala que fulano deu, ela se entusiasma com essas bobagens encantadoras dos primeiros relacionamentos, A declaração universal dos direitos dos namorados, A regra de segurança nos namoros, O contrato de namoro.
Por um segundo, volta no tempo muitos anos e mostra para o marido a página que dizia do direito de ter, por mês, tantos beijos e abraços e cafunés.
Ele, categórico:"a gente não liga para estatísticas".
Num resmungo desgostoso ela responde "é verdade", voltando, imediatamente, para 02 de setembro de 2007.
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