terça-feira, abril 03, 2007

a vida ao rés-do-chão

É o (lindo) título do (lindo) artigo do Antonio Cândido sobre a crônica. Essa forma "menor" da literatura, a prima pobre. Que não tem grandes pretensões, que não se propõe a nenhum tratado sobre o mal-estar da civilização ocidental, que se contenta em ser um olhar sobre o corriqueiro. Um bilhete para uma viagem breve, assim, com o café da manhã. O Antonio Cândido diz que é como o jornal (que via de regra é seu suporte), tem vida efêmera, não mais que um dia. E que, mesmo mínima, pode ser grande.
Às vezes penso nesse artigo enquanto venho para o trabalho. Porque eu tenho o similar visual, instantâneos que meu olho captura entre as paradas do ônibus.Gentes. Tanta coisa acontecendo. Uma mulher com peitos que não cabiam na blusa e sua amiga que não tinha peito nenhum. Um homem que levava uma cadeira nas costas. Logo ali uma ruiva de verdade, que parecia muito triste e usava muita maquiagem. Palavras nas camisetas (alguém vestia uma que anunciava um ateliê de biojóias - o conceito me escapa totalmente), palavras nas propagandas dos carros (um uno oferecia os serviços de dedetização, descupinização e desratização), o gringo-óbvio-camarão-camisa-de-turista.
Amanhã serão outras pessoas, em outras novelinhas. Novos personagens para as minhas crônicas não escritas. Minha vida ao rés-do-chão.

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